SUICÍDIOS DE FUMICULTORES E ATUAÇÃO DOS AGENTES DE EXTENSÃO RURAL PÚBLICA NO VALE DO RIO PARDO/RS

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22295/grifos.v30i54.5941

Palavras-chave:

Agricultura familiar., Convenção Quadro para Controle do Tabaco., Diversificação produtiva., Políticas públicas., Sistema integrado de produção.

Resumo

O artigo analisa o quadro institucional de ações e representações sociais construído pelo serviço público de extensão rural para o posicionamento de seus agentes frente aos suicídios de fumicultores no Vale do Rio Pardo/RS. Consiste em um estudo de caso cujos dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas com agentes de extensão rural e, complementarmente, pesquisa bibliográfica e documental. Os resultados evidenciam que os fumicultores não são inteiramente reconhecidos como integrantes da categoria socioprofissional agricultura familiar, não sendo facultado aos mesmos o usufruto de benefícios ofertados a outros agricultores familiares. Quando recebem atenção dos agentes do serviço público de extensão rural, os fumicultores são alvos de tentativas de implementação de ações de diversificação produtiva para redução das áreas de fumicultura. Ações como essas são compreendidas pelos fumicultores como desvalorização de seu trabalho, o que pode contribuir para crises identitárias e, consequentemente, suicídios. Portanto, apesar de visualizado como instrumento de resolução de problemas nas áreas rurais, o serviço público de extensão rural não pode ser assim compreendido no âmbito de prevenção dos suicídios de fumicultores: na visão de seus agentes, os suicídios são casos de saúde pública. 

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Publicado

2021-03-31