SÍNDROME DA RIQUEZA REPENTINA: UM ESTUDO ENTRE ESTUDANTES DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS DA UFSC
DOI:
https://doi.org/10.22277/rgo.v18i1.8568Keywords:
Riqueza repentina, Comportamento financeiro, Estudantes universitários, Contabilidade, Percepções emocionaisAbstract
Objetivo: Investigar as atitudes de estudantes do bacharelado em Ciências Contábeis da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) diante da hipótese de riqueza repentina baseada na “síndrome da riqueza repentina” de Goldbart, analisando seis dimensões emocionais (gratidão, euforia financeira, empoderamento, medo/estresse, prudência e desamparo) e o impacto de variáveis sociodemográficas como gênero, idade, fase e renda pessoal e familiar nessas percepções.
Método/abordagem: Pesquisa quantitativa conduzida com 114 estudantes de graduação em Ciências Contábeis da UFSC. Utilizou-se um questionário estruturado sobre sentimentos frente à hipótese de enriquecimento repentino. As análises empregaram estatísticas descritivas, correlação de Spearman, análise de clusters (K-Means), e testes t de Student para investigar diferenças por idade, gênero, fase do curso e renda.
Principais Resultados: Os sentimentos positivos, especialmente gratidão e prudência, predominaram entre os estudantes. O sentimento de desamparo teve baixa ocorrência. Gênero, idade e fase do curso influenciaram significativamente as atitudes emocionais: mulheres nas fases avançadas expressaram maior prudência e gratidão, mas também mais medo e desamparo. Diferentemente de achados internacionais, a renda pessoal não diferenciou significativamente as percepções, sugerindo que fatores educacionais específicos da formação contábil superam variáveis econômicas na determinação de atitudes frente à riqueza repentina.
Contribuições teóricas/práticas/sociais: Amplia a compreensão da chamada “síndrome da riqueza repentina” entre universitários brasileiros, aspecto pouco explorado na literatura nacional. Na prática, fornece subsídios para a reformulação curricular em cursos de Contabilidade e áreas afins, além de orientar profissionais da educação, do planejamento financeiro e da psicologia na adoção de estratégias de intervenção mais eficazes, com ênfase em prudência e no manejo de medo/estresse em subgrupos específicos. Socialmente, informa políticas e programas de educação, reconhecendo perfis emocionais heterogêneos diante de ganhos inesperados.
Originalidade/relevância: Este trabalho é original no Brasil por abordar especificamente estudantes de Ciências Contábeis e suas percepções emocionais sobre riqueza repentina, um tema relevante frente ao aumento de oportunidades de ganhos como em investimentos em criptomoedas e startups. A relevância consiste em destacar que a formação contábil pode reduzir os sentimentos de medo e desamparo, favorecendo reações mais adaptativas e resilientes a ganhos inesperados.
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